Imunologia e Infertilidade

A tolerância imunológica do feto pelo organismo da mulher já é bem conhecido, e se sabe que não existe uma barreira anatômica entre a mãe e o embrião, e que esse fica em íntimo contato com as células maternas. A placenta desempenha um papel importante para essa tolerância imunológica, pois não existe continuidade dos vasos sanguíneos da mãe e do feto.

As doenças tireoidianas autoimunes são caracterizadas pela presença de anticorpos antitireoide, principalmente antitireoglobulina e antiperoxidase. Esses anticorpos antitireoidianos foram observados em populações saudáveis, principalmente nas mulheres em idade reprodutiva. Existe maior risco de abortamento nas pacientes que apresentam esses anticorpos circulantes em níveis elevados. Estudos recentes demonstraram que a presença dos anticorpos antitireoide está fortemente associada á infertilidade inexplicada e ás falhas de implantação nas fertilizações in vitro.

O fator antinúcleo (FAN) indica a presença de lúpus eritematoso sistêmico e eleva as taxas de abortamento para 50% em pacientes com doença ativa. Não se conhece o mecanismo exato pelo qual a presença do FAN se correlacione com aborto. Estudos da placenta mostraram reações inflamatórias intensas nessas mulheres. A detecção dos anticorpos reflete uma atividade autoimune, que pode trazer sérias consequências ao equilíbrio imunológico fundamental para o sucesso da gestação.

Tanto nos casos de anticorpos antitireóide como de FAN aumentados, o tratamento consiste na administração de corticosteroides por via oral após a fecundação e mantido pelo menos até a vigésima semana de gestação.

Os genes HLA desempenham um importante papel no mecanismo de rejeição a tecidos transplantados e também modulam e induzem a tolerância materna durante a gestação. O reconhecimento materno de antígenos fetais de origem paterna ocorre durante a gravidez normal e é fundamental para sua boa evolução. Acredita-se que a expressão desses antígenos paternos permite que o feto seja reconhecido como estranho pelo sistema imune materno e esse tipo de reconhecimento é benéfico para a sobrevivência do embrião. Casais que apresentam compatibilidade HLA tem maiores intervalos entre as gestações, abortamentos, infertilidade sem causa aparente e falhas repetidas de fertilização in vitro. A pesquisa de compatibilidade HLA é feita pelo Cross-Match, exame que quantifica a presença dos anticorpos paternos. O tratamento da infertilidade decorrente da compatibilidade HLA envolve a imunização materna com concentrados de linfócitos paternos, ou seja, vacina com o sangue do marido.

As células Natural Killer (NK) são responsáveis pela defesa do organismo e se encontram reduzidas em gestantes quando comparadas as não grávidas. A atividade das células NK diminui em pacientes férteis e permanecem elevadas nos casos de abortos habituais. O tratamento é feito pela administração endovenosa de imunoglobilina humana, aplicações mensais até 12 semanas de gestação.

Os órgãos ligados ao sistema reprodutivo possuem receptores para a vitamina D. Ela age diminuindo o risco de doenças crônicas como cânceres, autoimunes, infecciosas, cardiovasculares entre outras. Tem efeito também na inibição da produção de alguns anticorpos, assumindo papel importante na abordagem da infertilidade, principalmente na de causa desconhecida. Dosagem da 25OH-vitamina D e a reposição quando necessária é a melhor conduta.